Por Camila Heloíse
Quando crianças sonhamos com um bocado de coisas. São vários desejos que criam em nós a ilusão de que tudo é possível e, dependendo da sua intensidade, nos iludir nessa etapa da vida talvez seja necessário para garantir uma imaginação fértil e uma mente esperançosa.
Ao nos tornamos adultos, pelo menos a maior parte de nós, ainda se veste de ilusões com a profissão, relacionamentos familiares e amorosos, amizades e tudo o que nos envolve. É sabido que quase sempre nem notamos que estamos nos iludindo em relação a algo (ou alguém), ou seja, colocando sobre aquilo expectativas irreais baseadas no que esperamos, e ainda desejamos que aconteça exatamente da maneira que acreditamos que irá nos satisfazer. Quando estamos assim, costumamos não enxergar as coisas e pessoas exatamente como elas são, é como se um véu nos tapasse os olhos e impedisse a nossa visão de conhecer a realidade. Amamos aquilo que imaginamos que o outro seja, esperamos do nosso trabalho ou profissão aquilo que imaginamos que ele deva nos ofertar, nos enganamos por conta própria sobre como os amigos e familiares deveriam agir conosco. Permitir-se ser iludido é uma das formas mais eficazes de fazer o sofrimento se instalar no próprio coração.
Toda essa postura gera dor e sofrimento a partir do momento em que nos sentimos decepcionados, e pior, entendemos sempre a decepção como culpa do outro. Segundo nosso ponto de vista, é uma dor profunda que o outro causou em nós, uma ferida que se abre em nosso peito e detona tudo o que criamos em nosso mundo imaginário em fração de segundos, e sempre por algo que o outro fez ou deixou de fazer, nunca atribuímos às nossas ilusões aquilo que nos machuca.
Nós não percebemos que a ilusão foi toda por nossa conta, e que não faz sentido dizer que o outro nos iludiu, a menos que ele seja um mágico devorador de mentes. Assumir a responsabilidade das nossas decepções é doloroso, entender que ninguém – além de nós mesmos – é responsável pela ideia que criamos de um universo impossível é assustador, mas, quando assumimos as nossas responsabilidades começamos finalmente a desiludir.
A maneira como vemos as coisas e as pessoas tem a ver com a nossa identidade, com os nossos olhos e os nossos sonhos. Eu sei que é difícil aceitar que o outro não é responsável pela nossa dor, mas confie nisso, se você quer ser feliz, DESILUDA-SE!
Desiludir-se antes que a própria vida faça isso é um ato revolucionário. Você transforma o chão em chão, o céu em céu e coloca todas as coisas em seus devidos lugares.
Desiluda-se daquela fantasia que você obrigou o outro a vestir e comece e enxerga-lo exatamente como ele é. Olhe para a sua vida e para sua família e seus amigos e remova as cortinas de expectativas que você colocou diante deles. Se você pretende viver com menos peso, passe a ver as coisas com mais clareza e menos exigências.
A realidade vai parecer áspera demais no início, pois nosso ego demora a aceitar a individualidade de cada ser, mas acredite, nada vai doer mais do que passar a vida culpando as pessoas pelas mentiras que você mesmo cultivou sobre a vida.
Olhar o mundo com clareza e sem ilusões não é algo ruim, desiluda-se, e tenha esperança e fé para seguir.